29 setembro, 2021

Jogos nem tantos inocentes - Por José Melo


Texto
José Melo
Recife-PE
Outubro/2013



Quando adolescente, vítima da ociosidade que reinava na então Custódia, terminei viciado em jogos. Primeiro, a inocente sinuca de Jurandir, no Bar Fênix. Depois, o Esplandim e o Caipira, na Banca que funcionava todas as segundas-feiras, no muro do referido Bar Fênix, que nesse dia se transformava num verdadeiro cassino: além do Esplandim – jogo de três dados em uma espécie de globo que depois de feitas as apostas era acionado e mostrava o resultado, apresentado na face superior de cada dado. O jogador que acertasse cada ponto mostrado em cada dado, receberia o equivalente ao que apostara, também o Caipira, este apenas um dado em uma espécie de caneca, que depois de agitada ficava encobrindo o dado, a espera das apostas. Quem acertasse receberia seis vezes o valor apostado. Também havia a Roleta, a espingarda de ar comprimido para tiro ao alvo, isso sem falar nas mesas de baralho, onde não raro aconteciam brigas em decorrência da disputa.


Nesse tempo, eu tentava aprender mecânica, na Oficina de Luizinho, que ficava no então Bairro do Texaco, onde hoje fica a Tambaú. Era, como se dizia na época, “Lambe-Ferro”, pois o aprendizado começava com a lavagem das peças a serem consertadas, com gasolina, para retirar o óleo, a graxa e a sujeira das peças. Recebia por esse trabalho, uma gorjeta, cujo valor não recordo. Recordo, isso sim, que ao meio-dia das segundas-feiras, após receber o “pagamento” corria direto para o Bar Fênix, em busca da sorte. Só iria pra casa almoçar, quando “alisava”.

Mas um dia, a sorte virou. Comecei a jogar, e fui ganhando, juntando as fichas correspondentes aos prêmios, até que chegou ao ponto em que o banqueiro ficou sem nenhuma ficha. Então decidi parar o jogo e trocar as fichas por dinheiro vivo. Foi aí que o banqueiro, espertalhão e antevendo o prejuízo, se negou a pagar, alegando que eu deveria continuar jogando. Queria, isso sim, era reverter o prejuízo. Foi então que me lembrei que o jogo, além de ser proibido para todos, era mais ainda para menores. E fiz a ameaça:

-“Se você não me pagar, vou dar parte a Dr. Josué, o Juiz Direito!”

Foi um santo remédio. Recebi o polpudo valor, que foi suficiente para comprar roupas, calçados, ajudar no pagamento de uma prestação de um fogão de casa, e ainda ficar com algum dinheirinho.

E a partir daquela data, jamais joguei a dinheiro toda a minha vida.

Por José Soares de Melo

2 comentários:

  1. José Melo, eu sei que sabe da estória de Numeriano.Jogou lá a noite inteira,baralho e perdeu tudo. Quando ia saindo, Otacilio chamou- para jogar.Ele respondeu: Faça ou tiro? Se for faça eu lhe dou a saída. Kkkkkk

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